Neste momento eu diria como tantos outros que a escola prepara os alunos para a escola em vez de os preparar para a vida, a escola e os professores querem que os alunos assimilem o máximo de conhecimentos para se preparar para os exames ou testes , nada mais importa. No final do ano lectivo de 2005/2006 fui a uma reunião de Encarregados de Educação promovida pelo Conselho Executivo da escola das minhas filhas e, no inicio deste ano lectivo de 2006/2007 fui a uma reunião de recepção a alunos e Enc. De Educação promovida pela directora de turma da minha filha do meio que tem 12 anos.. Nessas reuniões a palavra mais usada foi ‘teste’; desde ‘estudar para os testes’, ‘preparar-se para os testes’, a seguir foi ‘apoio’, no sentido de que os alunos precisam de apoio dos pais para estudarem para os testes, não se falou de competências, nem de educação para a cidadania, nem de capacidades para resolver problemas, nem nada disso, falou-se da escola como um sítio onde os alunos fazem testes e onde os saberes são : ‘conhecimentos para o teste’. Isto passa-se cinco anos depois de surgir o documento ‘Competências Gerais para o Ensino Básico’, e depois de surgirem alterações de peso na estrutura do ensino básico. Mas afinal nada mudou?
Bem, é certo que as competências não se ensinam, mas podem ser criadas condições que estimulem a sua construção, uma escola que dê prioridade aos saberes úteis na vida das pessoas, que ligue os saberes às práticas sociais é uma escola viva, mas a nossa escola aqui em Portugal, apenas se preocupa com os testes.
Definir os saberes ou as competências que a escola deve transmitir ou facilitar aos alunos é sempre uma tarefa política, muitas escolhas têm de ser feitas, alguns saberes e competências terão de ser deixados de fora, outros serão considerados prioritários para preparar os futuros cidadãos. Mas ninguém é profeta, nem mesmo os políticos e dificilmente se poderá adivinhar o que o futuro traz. Por isso é tão difícil e polémico falar de competências para a nossa sociedade (Europa ocidental, sul, país com algumas diversidades, minorias, contradições, culturas)
No entanto valorizar saberes vivos, ligados às práticas sociais, que sejam ferramentas para actuar sobre o mundo é uma tarefa que tem de ser feita na escola democrática. Que saberes? Para definir competências teremos de começar por aí, uma competência mobiliza sempre saberes , embora não se fique por aí , uma competência permite enfrentar regular e adequadamente um grupo de tarefas e de situações, apelando a noções, conhecimentos, informações, procedimentos, métodos, técnicas, bem como outras competências mais específicas ( Perrenault, 2001). As competências implicam recursos ( capital cultural) , mobilização desses recursos com criatividade, Segundo Perrenault ( 2001, p.32) a transferência de conhecimentos não é automática, adquire-se pelo exercício e por uma prática reflexiva, nas situações que permitem mobilizar, transpor e combinar os saberes, bem como inventar uma estratégia original a partir dos recursos que não a contêm nem a ditam
Que competências privilegiar? Questão difícil. Neste momento no ensino básico tentou-se impor a nível ministerial um modelo de ensino por competências, mas nem os professores não estavam preparados para isso, nem o currículo o poderia incluir sem reformas mais profundas. Tentou-se colar uma nova disciplina: área de Projecto em vez de reformular todo o currículo do ensino básico como área de projecto e pior ainda não se reformularam os programas das diferentes disciplinas que não se adequam ao ensino por competências. Em suma a escola continua a ser o local onde se acumulam saberes descontextualizados, tirando raras excepções. Assim não se pode falar de competências, nem de ensino por competências.
Para falar de competências no ensino básico, deveria primeiro repensar-se todo o sistema, pensar a escola como um projecto e não como uma enciclopédia dividida em tempos lectivos de 45 minutos.
Neste momento os diferentes programas do ensino básico são feitos a partir duma concepção novecentista da escola, são feitos a partir de lobbies disciplinares e são feitos para uma elite de favorecidos. A escola de massas com oportunidades iguais para todos é um grande logro. O que existe é uma escola de massas medíocre, a grande maioria está condenada ao insucesso e uma pequena elite às universidades, pelo meio não há nada. Onde está a escola para a excelência de que tanto falamos? Onde está o ensino de pedagogia diferenciada com classes de 28 alunos ? Eu apenas vejo desigualdade, falta de oportunidades, mediocridade…. Uma escola que não se volta para o presente não pode ser uma escola que prepare os alunos para o futuro. Querem falar de competências? Tudo bem, então vamos mudar muita coisa. A abordagem por competências exige considerar uma evolução sensível das pedagogias e dos modos de avaliação ( Perrenault, 1998), precisamos de uma forte aposta na formação inicial de professores, na formação contínua de professores e no sistema de avaliação baseado em testes.
23 outubro 2006
QUE Competências Dos alunos para o Ensino Básico?
Publicada por Arte Educador à(s) 16:30
1 comentário:
Apropósito do seu ctexto sobre as competências, lanço o desafio de analisarmos as competências especificas da Educação Artística, em especial a o Desenvolvimento da Literacia em Artes que o documento propõe e as competencias da Educação Visual nas suas 3 dimensões.
Parece-me um bom motivo de discussão, ao memso tempo que são um instrumento de trabalho fundamental para a nossa ´prática lectiva.
Ricardo Reis
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