Ainda estou meio confundida depois da minha visita a Osaka. Foi de facto uma experiência incrível, o mergulho ainda que muito breve na cultura nipónica!!! Apesar de muitas leituras sobre o Japão e de ter muitos amigos japoneses , o choque foi terrível, não pela negativa, nem pela positiva, apenas pela diferença. Pela primeira vez senti o 'Outro' em toda a sua dimensão e ainda tenho dificuldade em entender as minhas reacções. Preciso de voltar mais tarde e com mais tempo, só tenho medo de me fascinar demais com o apurado sentido de harmonia e de me esquecer de voltar como aconteceu a Venceslau de Morais alguns séculos atrás.
Vim carregada de Banda Desenhada japonesa (manga). As pessoas jovens da cidade de Osaka parecem saídas dos mangas, e tudo o que li sobre manga escrito por ocidentais não descreve a profunda ligação que existe entre manga e vida real ou entre manga e literatura tradicional como por exemplo os contos de Genti, desenhado por Waki Yamato a partir do livro de Murasaki Shikibu, um hino ao desenho e à arte de contar histórias visualmente.
Visitei a escola primária afectada à Faculdade de Educação da Universidade de Osaka. Foi interessante observar /in situ/ os professores dando aulas de educação artística aos alunos. A escola possuía um espaço muito agradável, limpo, funcional, com campos de jogos e parques infantis. A limpeza , harmonia e respeito pelo espaço impressionaram-me muito, não só nesta escola mas em todos os outros locais que visitei. As paredes das salas e corredores da escola mostravam muitos trabalhos artísticos de alunos, quase todos obedecendo a um tema , a maior parte dos desenhos contava histórias da vida quotidiana das crianças, de dados históricos, interpretação de lendas ou contos japoneses e ocidentais. Apesar de ter sentido que a escola tinha sido especialmente preparada para a visita dos conferencistas via-se que a educação visual é extremamente importante na educação das crianças desta escola. As aulas observadas, pareceram-me muito artificiais, as crianças extremamente sossegadas, nos seus uniformes impecáveis, pintando, colando, modelando, construindo. Numa das aulas os meninos e meninas de 4 ou 5 anos aprendiam formas geométricas recortando, noutra decoravam os típicos guarda-chuvas transparentes de Osaka.
Mais tarde disseram-me que neste país uma das práticas correntes em congressos, encontros e formação de professores é a observação de aulas. Durante o congresso os professores japoneses contaram-me como a educação visual é de facto muito importante no ensino obrigatório ( entre os 3 e os 15 anos), embora de modelo extremamente ocidentalizante do tipo Bauhaus tal como foi referido no painel de comunicações liderado pelo Professor Susuki e Kaneko ( universidades de Kochi e Kobe).
O Congresso da InSEA decorreu entre os dias 5 e 9 de Agosto de 2008 nas instalações da International House Osaka. O Programa foi extremamente condensado, participaram 1200 pessoas de 50 países, aproximadamente 400 estrangeiros e 800 japoneses. O público pertencia essencialmente à comunidade de professores universitários e investigadores na área da educação artística. Os trabalhos dividiam-se em apresentações individuais ou em painéis por oradores convidados, apresentações individuais dos participantes e oficinas . O programa era tão denso!!! Durante todo o tempo senti-me extremamente desorientada tanto no espaço como no tempo e também porque estive quase sempre em reuniões do Conselho da InSEA e isso não me deixou assistir a quase nada do que queria.
As oficinas ou ‘workshops’que progressivamente tomavam conta do grande átrio da Internacional House e as salas da cave eram extremamente dinâmicas apresentando temas variados : trabalhos realizados por alunos de todo o mundo em projectos sobre paz, diversidade cultural da qual saliento o projecto ‘ Kids Guernica’ onde as crianças pintavam a sua interpretação do massacre de Guernica em grandes panos rectangulares e um outro também internacional onde crianças de vários países retratavam a cultura do outro pintando metade de um pano a partir da maneira como imaginavam a cultura do país parceiro enviando o pano para ser concluído da mesma maneira pelas crianças do país parceiro. Algumas oficinas foram sobre técnicas de pintura japonesa, outras sobre processos artísticos como processos de conhecimento como a da grega Eleni Grafakou : Come and see the world from inside me’.
Muitas comunicações versaram sobre o tema do património, como transmitir a herança cultural , de onde destaco o simpósio Understanding Asian Art and Heritage and their Teaching Method e a comunicação da Professora Kim da Universidade de Gyongin, Corea). Como tornar os museus mais motivantes ( Taiwan) ? Como preservar culturas na era da globalização? As respostas foram variadas desde o museu virtual ao reforço dos serviços educativos nos museus.
Em comunicações individuais o tema do património em contextos educativos informais foi muito debatido, e as propostas das indianas Mousumi De e Geetha Bath pareceram-me extremamente inovadoras entendendo o património dentro de contextos mais alargados, económicos, sociais e ambientais que podem passando por comunidades locais revitalizar uma população em risco de desaparecer como por exemplo a comunidade Deevru no sul da Índia.
O tema cultura visual continua muito vivo nos debates, tal como me apercebi desde o discurso inaugural de Brent Wilson atravessando muitos discursos ao longo das conferências. E mais ainda cada vez alargando mais as áreas para a sua compreensão, passando pela linguística, semiótica, sociologia, mais especificamente estudos culturais para se encaixar cada vez mais na necessidade da intervenção da educação e das ciências da educação.
Fascinou-me a comunicação dos dois belgas Marc Colpaert e Dirk Terryn mostrando excertos de filmes do iraniano Majid Majidi, e fizeram-me pensar como tudo isto educação artística se emaranha na educação dos valores, como é forte o poder da imagem, mesmo apesar da censura da imagem ser potente, como podemos olhar e aprender a olhar, como podemos aprender a compreender o outro através do entendimento de filosofias e religiões que parecem ter sido esquecidas no mundo da competição económica.
Também encontrei o tema da arte terapia em várias intervenções, desde Ana Mampaso, de Espanha mostrando como através de processos simples de realização de filmes se pode ajudar alguém com problemas de relacionamento social ( esquizofrenia ou autismo). Mas o tema mais debatido no congresso foi dentro de ensino formal, as questões curriculares que neste momento interessam muito aos países asiáticos. Pareceu-me que tanto a China, como a Coreia , Hong Kong, Taiwan e Japão estão preocupados e fomentam a educação artística desde as mais tenras idades. Talvez porque sintam que o desenvolvimento económico e social passa por aí ou por razões culturais , não cheguei a entender muito bem mas deu para perceber que estão extremamente interessados na reforma que neste momento decorre no Reino Unido, fruto da política sobre a urgência da criatividade nas escolas.
23 agosto 2008
Visita a Osaka para o 32º congresso da InSEA
Publicada por Arte Educador à(s) 00:30
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