04 novembro 2007

Algumas reflexões sobre a Conferência Nacional de Educação Artística ( Casa da Música, Porto , Portugal, 29-31 de Outubro de 2007)

Falou-se muito da importância da educação artística, Anne Bamford reproduziu um dos seus discursos chave, a frase ‘ é preferível não ter educação artística do que ter uma educação artística má’ foi muito bem vista.

Houve muitos discursos sobre a necessidade da educação artística. Houve muitas maneiras de ver a educação artística mas sem a definir verdadeiramente. Na mesa redonda sobre conceitos não me pareceu que atrás dos discursos houvesse um quadro teórico sólido. Isto deixa-me a pensar que em Portugal é necessária muita investigação neste campo e sobretudo muita divulgação dessa informação.

Fiquei espantada com a vivacidade e a riqueza de todos aqueles que apresentaram relatos das suas experiências, pequenas escolas, associações culturais, pequenos teatros por exemplo . Embora fossem relatos que acentuavam sobretudo o valor do fazer , da produção artística. Foi bom ver que no país há gente que trabalha com muita vontade e imaginação , muitos deles com apoios estatais ou de fundações.


Foi uma pena os convidados não falarem sobre os temas propostos, temas muito ricos mas que na verdade não foram devidamente explorados. Houve quem fizesse a promoção dos serviços educativos das instituições onde trabalhavam foi o caso da mesa redonda que presidi sobre redes e parcerias, haveria muito mais a dizer e a discutir. Parece-me que em Portugal, as pessoas não estão habituadas a grupos de trabalho e a mesas redondas e para eles uma conferência é apenas um sítio onde se fazem discursos individuais.


Foi pena também o público não ter tempo para debater as questões que poderiam ter surgido nas mesas redondas. Assim não consegui ter um panorama geral da educação artística no país.

Notei uma tensão muito grande entre as várias artes: a música, a dança, o teatro, as artes visuais e pior do que isso notei um mal estar muito grande entre professores e artistas. Não estou a ver num futuro próximo como mudar mentalidades e ver esta gente a trabalhar junta. Rui Vieira Nery aflorou algumas questões interessantes entre cultura e educação, entre escola e artes, disse que nos faltavam mecanismos de interligação entre os ministérios da cultura e da educação , faltava incentivar o acesso dos artistas à escola através de mecanismos contratuais e mecanismos de certificação. Domingos Fernandes um matemático , que tem avaliado os cursos de ensino artístico especializado disse que deveríamos valorizar a educação artística , referiu H Gardner e as múltiplas inteligências, pois, isso nós sabemos quem não quer ver isso são os governos que acham que os conhecimentos científicos são mais importantes do que o conhecimento artístico, esta hierarquia de saberes já nem sequer faz parte no nosso século , um século que quanto a mim está virado para a interdisciplinariedade. Mas os governos perpetuam um sistema anacrónico, porque será? Domingues Fernandes também esteve no governo, aqui há uns anos atrás e não fez absolutamente nada para tornar a educação artística mais acessível a todos e agora diz que acredita que ’as artes não são uma mera satisfação são recursos essenciais’ .

Bem mas não queria falar muito na pequenez dos governos, na mesquinhice das regras que têm feito , nem no caminho que a educação está a ter neste momento em Portugal.

A educação artística não é panaceia para os males da sociedade, isso foi dito muitas vezes no congresso, reacção óbvia ao discurso da Unesco. Mas nunca nenhum país fez um sistema educativo onde a educação artística tivesse predominância, por isso ninguém pode saber qual o seu verdadeiro impacto na sociedade . Joaquim Azevedo também fez um discurso apropriado, pondo em causa tudo o que os outros tinham dito antes dele, apelou para que se pegasse no paradigma da aprendizagem ao longo da vida para a educação artística. No congresso falaram de rigor, de disciplina, de exigência mas se querem que vos diga a verdade eu achei todos estes discursos muito leves, sem fundamentos, sem referências à realidade, coisas que se dizem no ar.

E talvez eu não tivesse sido a única a ter esta sensação, sensação de frustração, de que nada vale a pena, de que não podemos contar com as decisões centralizadoras de um qualquer governo, o director da casa da música no discurso de encerramento também o fez sentir.
Tive pena que as redes e parcerias não tivessem tido um debate sério. Porque me parece o caminho mais certo para a mudança, uma mudança lenta que contamina pessoa a pessoa devagarinho, pessoas que podem estar na educação, na cultura, no governo ou fora do governo, artistas, professores e investigadores. A rede acredita nas pessoas e não nas instituições é por isso que acho eu poderá funcionar um dia destes. Um dia onde por peso do número de pessoas e de trabalho desenvolvido no campo a rede possa ter influencia a nível das instituições.

Bem mas já chega de palavras ocas, as recomendações do congresso foram excelentes, o que prova que no meio de uma grande confusão se podem gerar algumas ideias, ora vejam algumas delas:

- grande e urgente prioridade: formação e qualificação/ acreditação
- cultura de exigência rigor e disciplina nos programas de formação de educadores, professores, agentes culturais, técnicos, gestores, etc.
- redes para a educação artística
- qualificação de graus de experiência
- Reorganizar e diversificar a rede de oferta do ensino especializado desde o ensino básico
- envolvimento das associações profissionais na formação ao longo da vida
- tornar acessível o acesso a formadores estrangeiros
- urgente qualificação dos recursos humanos
- criação de uma rede de peritos nacionais em educação artística
- promover a investigação-
- criar uma agenda nacional para a educação artística
-etc.


Bem, eu concordo com tudo isto ( as recomendações estarão brevemente disponíveis no site da conferência http://www.educacao-artistica.gov.pt/), mas vamos agora passar a acção? As burocracias do sistema de formação inicial e continuo são terríveis, nem toda a gente pode ser formadora , nem todos os cursos de formação inicial podem ser como deveriam por razões ligadas a motivos que nada têm a ver com a educação artística. Mas precisamos urgentemente de reformular o sistema, precisamos de flexibilizar , de apostar nas verdadeiras necessidades e deixar de equacionar agendas de formação de recursos em função de lobbies e de interesses corporativos.

Assim para concluir , apesar de tudo gostei da conferência, obrigada a quem a organizou , valeu a pena, nem que seja por causa das recomendações e das boas práticas que tivemos oportunidade de ver naqueles três dias.

( Teresa)

2 comentários:

Anónimo disse...

A Educação Artística é como uma rede muito complexa com malhas muito largas onde os indicadores do que é não são objectivos.De qualquer interessa que se mantenham as reflexões citadas à procura do seu paradigma.

Anónimo disse...

Deve ler-se "de qualquer forma interessa"